terça-feira, 14 de setembro de 2010

Um brasileiro

Outro corpo jogado no chão era apenas mais um que acabará de entrar nas estatisticas, mas diferente dos outros esse corpo ainda respirava, e tinha pulsação. Abraçando o joelho esquerdo, que estava junto ao seu peito ele não mostrava nenhum ferimento vital, haviam apenas algumas cicatrizes espalhadas pelo seu corpo pequeno e esguio.
Era apenas uma criança, foram 13 anos muito difíceis que levaram sua infância e a sua vontade de viver. Não esboçava mais nenhuma reação, tinha acustumado a se sentir invisível, ele não tinha que brincar disso como faziam as outras crianças, pois essa sensação que ele estranhará os outros chamarem de brincadeira o acompanhou desde o dia do seu parto.
Sentado no meio fio de uma avenida pouco movimentada, ele permanecia sem expressão. Estagnado. O tempo acabou pra ele, não havia mais perspectivas e muito menos vontades, só lhe restava uma raiva, uma maldita raiva de seu coração, que mesmo sem seu consentimento continuava a bater.
Seu corpo era a personificação da dor. Não conseguia entender por que seu destino já estava traçado antes mesmo de sair da barriga daquela mãe que ele nunca conheceu. Ele queria pelo menos ter uma opção, e se essa fosse a de não ter nascido já estaria de bom tamanho para ele. Vi uma lagrima escorrendo pelo seu rosto, mais não era ele quem chorava, já tinha se cansado disso e não lhe restava forças para tal ato, dessa vez era sua alma que estava a chorar, e fazia isso por ver aquele corpo que a carregava naquele estado deplorável.
Me aproximei dele, tirei uma moeda do bolso e respeitando a sua dor encostei em seu braço, ele em um ato de puro reflexo se virou e bateu com o nariz na minha mão, que estava estendida a lhe oferecer aquela singela moeda. Ele ficou 10 segundos olhando para minha mão, depois mais 10 olhando para os meus olhos, enxugou sua lagrima, e voltou a sua posição em que aguardava o fim do egoísmo do seu coração. Eu sem entender e até julgando-o ser um moleque atrevido por desdenhar minha ajuda, tomei de volta o caminho para minha casa.
E foi ao chegar aqui que eu percebi minha falta de sensibilidade, foi aqui que eu vi o que aqueles olhos opacos queriam me dizer, estava claro que o dinheiro e um prato de comida não eram nada para aquele garoto. Pois afinal, ele não queria a moeda que estava na minha mão, ele só queria a minha mão.

Um comentário:

  1. Obrigada, tbm gostei dos teus textos, vou seguir aqui e tals.
    Adorei essa temática do último texto, quantas vezes a gente não para pra pensar que só o que as pessoas querem da gente é atenção né.
    Tem texto novo no meu blog =)

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